sexta-feira, 25 de março de 2011

UMA HISTÓRIA DE LUZ


Testemunho dado em 24/03/2000

Elisabete

Há oito anos estou no plano espiritual, nasci, como todas as meninas, normal, brincando, correndo, brigando, vivendo intensamente. Mas, aos cinco anos, comecei a cair com muita facilidade, o que preocupou os meus pais, que me levaram ao médico. Constataram que eu era portadora de uma paralisia progressiva.
Os anos foram se arrastando, eu tinha mais duas irmãs e as via pular, brincar, correr. Nas festas de aniversários corriam atrás dos balões e eu sempre esperando que alguém se lembrasse de mim para me dar balão, para me dar um pedaço de bolo, para me dar guaraná. Não falava, sempre que me olhavam eu sorria, mas dentro do meu coração existia um sofrimento enorme. Eu perguntava:
– Por que, Deus? Por que eu não sou como as outras meninas?

Por que eu não posso também correr e brincar como as minhas irmãs? Me davam bonecas, elas eram minhas permanentes companheiras, amigos, parentes, eu tinha muitas bonecas. Com elas eu conversava, porque até minha mãezinha tinha seus afazeres, seus compromissos sociais, tinha que levar criança na escola. E a minha dificuldade era muito grande. Durante algum tempo eu até estudei. Era inteligente, mas depois foi ficando mais difícil e eu mesma preferi, naquele desencanto pela vida, não ir mais à escola. Pedi, em prantos, à minha Mãe e, certamente, o médico lhe disse: “Ela não vai viver muito”. Eu esperava, realmente, que não fosse viver muito. Eu via, progressivamente, a paralisia ir tomando o meu corpo.
Eu conversava com as bonecas, lia muito, ouvia música. Aquele era meu mundo, não sentia nenhuma alegria em sair. Mas, para não constranger a minha mãe, para não ser dela carcereira, eu aceitava participar de festas. O meu tormento era visível e a piedade nos olhos das pessoas mais visível ainda.

Chegou a puberdade, eu era a caçula, via as minhas irmãs se aprontando para irem para uma festinha, para o cinema, para irem aos parques. Elas chegavam contando, alegres, entre elas, porque os assuntos delas não eram os mesmos assuntos que tinham comigo.
Assim os anos foram passando. Os namorados, os primeiros namoradinhos das minhas irmãs e um jovem que foi para comigo muito bondoso. Ele, um dia, chegou e falou com a minha irmã:
– Sua irmã é muito bonita.
Ninguém nunca havia me dito que eu era bonita, nem me importava se eu tinha o rosto bonito ou não. Meu corpo não respondia aos meus impulsos, aos meus apelos. Olhava para meus pés e não conseguia movê-los. Ele me trouxe alguns discos, alguns livros. Se tornou, realmente, um irmão. E eu ficava ansiosa para que minha irmã casasse, realmente, com aquele rapaz, mas, um dia, ele se foi. Desmancharam o namoro, algumas vezes ele me visitou. Eu fiquei sem o amigo que conversava comigo, que elogiava meu cabelo, que me levava livros, bombons. E minha vida voltou a ser o que era, e ela a trocar de namorados e namorados.
Um deles, diante de mim, disse, sem nenhuma piedade:
– Essa doença de sua irmã. Ela pode ser transmitida para filhos? Casando-me com você, eu posso ter um filho nessa situação?
Minha irmã respondeu:
– Eu não sei. Não sei te dizer isto.
Eu então me recolhi ao quarto daquele dia em diante. Não quis mais ser um espetáculo que pudesse prejudicar a descendência dos namorados de minhas irmãs. Sofri atrozmente, mas nunca deixei que ninguém me visse chorar e para todos eu sorri…
Até que, com vinte anos, já com muita dificuldade para engolir, vi o meu corpo, pouco a pouco, diminuir, como se eu fosse voltar a ser criança. Passei a preocupar mais os meus familiares e mais preocupada fiquei com eles. Porque eu me sentia uma carcereira, sentia que todos eles estavam presos à minha deficiência física. E, aos vinte anos, parti para o plano espiritual.
Dois médicos que eu não sabia quem eram me socorreram. Um deles me disse:
– Eu sou Bezerra de Menezes, vou levá-la para recuperar-se. Você receberá tratamento, voltará a ter suas funções normais, mas melhorar, realmente, vai depender de você. Você teve um estágio de encarceramento carnal. Foi necessário isso para que você observasse as pessoas que te cercam, soubesse ver os sentimentos, olhar aquilo que os olhos das pessoas falam, soubesse esconder a sua dor e, também, que nós podemos ser um peso ou uma alegria para aqueles que nos cercam.
Ele me levou, então para a Colônia Nosso Lar. Eu recebi terapia em todo o corpo, via gradativamente as minhas pernas tomando formas, recuperando os movimentos, minhas mãos, minha respiração, que era ofegante, voltaram ao normal.
Pouco a pouco, eu, conversando com aquelas que eram da mesma enfermaria, consegui sentar na cama e arrastar os pés. Debrucei-me sobre a janela e vi um belo jardim, belas árvores, chafarizes...........................................................................
E o Dr. Bezerra de Menezes voltou a procurar-me.
Você esta disposta a ver as conseqüências que uma vida trouxe para você através da paralisia redentora?
– Estou!
Ele, conversando alegremente, segurando a minha mão como um pai amoroso, me levou a uma sala onde havia uma tela grande, onde se movimentavam imagens em terceira dimensão. Eram cenários muito belos e nós três, ali reunidas, depois de nos cumprimentarmos, olhávamos aquelas paisagens belíssimas e falávamos: “essa paisagem não é brasileira”.
E aí foi sendo projetada a vida de cada uma de nós. Quando chegou a minha vez, lá estava eu, uma jovem bela, que tinha uma ama para calçar meus sapatos, apertar os meus espartilhos, pentear os meus cabelos, trazer meu chá que, às vezes, eu não gostava e lhe atirava na face, sem nenhum respeito pelo ser subalterno, sem um carinho por aquelas pessoas que cuidavam do meu bem estar. Entrava nas carruagens e, muitas vezes, quando ia cavalgar com o chicote na mão para chicotear o cavalo puro sangue eu chicoteava o treinador como se ele fosse um animal, não um ser humano, tal o desprezo que eu sentia por todos que trabalhavam.
Revi, nas minhas lembranças, a serva da minha mãe e a minha serva. Lá estavam elas como filhas e como minhas irmãs, num reajuste tão misericordioso, porque elas me tratavam com tanto carinho, com diferença da juventude, é certo.
Senti uma tristeza muito grande, chorei silenciosamente e falei para o Dr. Bezerra:
– Olha, eu tive a bênção de ter tantas bonecas, quanto tantas meninas não tiveram uma boneca sequer, quando tantas e tantas meninas olharam as vitrines com os olhinhos cobiçosos, sem poder embalar nos braços as bonequinhas expostas à venda. Se for permitido, eu gostaria de trabalhar com crianças, crianças deficientes que estivessem em recuperação, a quem eu pudesse dar os primeiros cuidados. Sei que não tenho nada dentro de mim, agora vejo mais ainda, o quão pouco eu fiz no mundo e essa ânsia que eu tenho de usar as mãos, se me for permitido eu gostaria de trabalhar na enfermaria das crianças.
As crianças, quando desencarnam, chegam ao plano espiritual ainda mantendo aquela forma durante algum tempo. Às vezes são pontas de encarnação, como é chamado aqui em cima, são delitos pequenos que têm que resgatar. Ou de um câncer em que foi desencadeado o desencarne antes da hora, ou a necessidade de um período de reajuste.
Um dia chegou o doce Bezerra de Menezes:
– Recebemos a permissão do ministro, você vai ter uma entrevista com a ministra Veneranda e poderá trabalhar na ala das crianças deficientes.
E como elas ficavam felizes ao verem como as perninhas recuperavam os movimentos, que os bracinhos se estendiam para nos abraçar, corriam e brincavam e eu contava história: “Era uma vez, uma menina muito bonita, muito rica, que teve que sofrer muito para aprender que a vida pode ser uma bela história, se nós soubermos viver…”.
A todos vocês o meu agradecimento, por terem tido a paciência de me ouvir. Agradeçam a Deus o que vocês possuem. Jovens, não destruam a saúde de vocês no vício, nas drogas. Aqueles que chegam ao plano espiritual e que usaram drogas, ficam paralisados, catatônicos, e, certamente, terão uma reencarnação tão dolorosa como a que eu tive, porque não souberam valorizar a saúde. Aquilo que tinham de perfeito, tornaram imperfeito.
Jovens, vocês que possuem motocicleta e carro, dirijam com prudência. Porque aqueles que destroçam seu corpo na velocidade e na imprudência ficarão, no plano espiritual, também lesados durante muito tempo e, certamente, nasceram com seqüelas, porque não souberam valorizar o corpo saudável que possuíam.
Mães, jovens, percebam o valor santificante do corpo de vocês, respeitem-se, saibam que a vida é uma benção e nós devemos muito respeito a esse corpo que não foi feito por nós, foi feito por Deus.
Cuidem-se, porque a beleza é uma rosa bela num jardim em que o vento bate em suas pétalas e as arrastam pela lama. A rosa só é bela enquanto está na roseira, depois que perece nem perfume possui, com qualquer flor é assim. Aproveitem a flor da vida para terem, na sua essência mais sublime, aquilo que a vida tem de melhor.
E, se vocês virem alguém arrastando o corpo no cárcere da deficiência física, não tenham piedade. Ajudem com um sorriso, com uma palavra. Façam com que se sintam amados e felizes, mas não tenham piedade, estão resgatando, estão reformulando o seu corpo somático, estão transformando as suas células lesadas em células saudáveis. Façam com que eles sejam capazes de sorrirem e sentirem que a vida tem gosto de amor. Esse amor diferente que é o amor doação, amor caridade. Façam com que as pessoas, ao chegarem perto de vocês, sintam que valeu a pena viver. E que a alegria é a tônica da vida.

Que Deus abençoe a todos. Muito e muito obrigada por tudo.

Texto psicografado - Foto ilustrativa

Um comentário:

  1. Essa narrativa me lembrou uma frase famosa:
    “Devemos orar pelos políticos, pelos administradores da vida pública. A tentação do poder é muito grande. Eu não gostaria de estar no lugar de nenhum deles. A omissão de quem pode e não auxilia o povo, é comparável a um crime que se pratica contra a comunidade inteira. Tenho visto muitos espíritos dos que foram homens públicos na Terra em lastimável situação na Vida Espiritual...” (Chico Xavier)
    É oportuno...

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