Do livro: O Evangelho de Chico Xavier
"Devemos orar pelos políticos,
pelos administradores da vida pública. A tentação do poder é muito grande. Eu
não gostaria de estar no lugar de nenhum deles. A omissão de quem pode e não
auxilia o povo é comparável a um crime que se pratica contra a comunidade
inteira. Tenho visto muitos espíritos dos que foram homens públicos na Terra em
lastimável situação na Vida Espiritual . . ."
A autoridade, tanto quanto a
riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que se ache dela
investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de
mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da Terra, como um
direito, uma propriedade. Deus, aliás, lhes prova constantemente que não é nem
uma nem outra coisa, pois que deles a retira quando lhe apraz. Se fosse um
privilégio inerente às suas personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe
dizer que uma coisa lhe pertence, quando lhe pode ser tirada sem seu
consentimento. Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova,
quando o entende, e a retira quando julga conveniente.
Quem quer que seja depositário de
autoridade, seja qual for a sua extensão, desde a do senhor sobre o seu servo, até a
do soberano sobre o seu povo, não deve olvidar que tem almas a seu cargo; que responderá
pela boa ou má diretriz que dê aos seus subordinados e que sobre ele recairão
as faltas que estes cometam, os vícios a que sejam arrastados em consequência
dessa diretriz ou dos maus exemplos, do mesmo modo que colherá os frutos da
solicitude que empregar para os conduzir ao bem. Todo homem tem na Terra uma
missão, grande ou pequena; qualquer que ela seja, sempre lhe é dada para o bem;
falseá-la em seu princípio é, pois, falir ao seu desempenho.
Assim como pergunta ao rico:
"Que fizeste da riqueza que nas tuas mãos devera ser um manancial a espalhar a
fecundidade ao teu derredor", também Deus inquirirá daquele que disponha
de alguma autoridade: "Que uso fizeste dessa autoridade? Que males
evitaste? Que progresso facultaste? Se te dei subordinados, não foi para que os
fizesses escravos da tua vontade, nem instrumentos dóceis aos teus caprichos ou
à tua cupidez; fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os
amparasses e ajudasses a subir ao meu seio."
O superior, que se ache
compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam submetidos,
porque sabe que as distinções sociais não prevalecem às vistas de Deus.
Ensina-lhe o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham
dado ordens, ou poderão dar-lhas mais tarde, e que ele então será tratado
conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade. Mas, se o
superior tem deveres a cumprir, o inferior, de seu lado, também os tem e não
menos sagrados. Se for espírita, sua consciência ainda mais imperiosamente lhe
dirá que não pode considerar-se dispensado de cumpri-los, nem mesmo quando o
seu chefe deixe de dar cumprimento aos que lhe correm, porquanto sabe muito bem
não ser lícito retribuir o mal com o mal e que as faltas de uns não justificam
as de outrem.
Se a sua posição lhe acarreta sofrimentos,
reconhecerá que sem dúvida os mereceu, porque, provavelmente, abusou outrora da
autoridade que tinha, cabendo-lhe, portanto, experimentar a seu turno o que
fizera sofressem os outros. Se vê forçado a suportar essa posição, por não
encontrar outra melhor, o Espiritismo lhe ensina a resignar-se, como
constituindo isso uma prova para a sua humildade, necessária ao seu
adiantamento.
Sua crença lhe orienta a conduta e o induz a
proceder como quereria que seus subordinados procedessem para com ele, caso
fosse o chefe. Por isso mesmo, mais escrupuloso se mostra no cumprimento de
suas obrigações, pois compreende que toda negligência no trabalho que lhe está
determinado redunda em prejuízo para aquele que o remunera e a quem deve ele o
seu tempo e os seus esforços. Numa palavra: solicita-o o sentimento do dever,
oriundo da sua fé, e a certeza de que todo afastamento do caminho reto implica
uma dívida que, cedo ou tarde, terá de pagar. - François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot. (Paris, 1863.)
Texto pinçado do livro "Evangelho segundo o
Espiritismo" (Allan Kardec)
Foto ilustrativa
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